é difícil para mim querer falar desse assunto e não iniciá-lo pelos estados unidos. acredito que não preciso fazer nenhum recap de trajetória do país, então vou direto ao assunto.
a posse de donald trump em janeiro de 2025 foi marcada por muitas coisas, a começar pelo discurso:
"a partir de hoje, nosso país florescerá e será respeitado novamente em todo o mundo. seremos a inveja de todas as nações e não permitiremos mais que tirem vantagem ao longo de cada dia da administração trump. eu vou, de maneira muito simples, colocar a américa em primeiro lugar.
a nossa soberania será recuperada, a nossa segurança será restaurada. a balança da justiça será reequilibrada. (...)
a nossa principal prioridade será criar uma nação orgulhosa, próspera e livre. a américa, em breve, será maior, mais forte e muito mais excepcional do que nunca."
trump falou por o que eu julgo ter sido 30 minutos inteiros, e em todas as palavras ele reforçou as mesmas ideias anteriores: totalmente contra imigrantes, fim das políticas de diversidade e, apesar de dizer que seu governo será pacificador e unificador, também prometeu tornar o exército estadunidense mais forte (contraditório).
essas movimentações já eram esperadas pelo presidente, o que não era esperado era que pessoas como mark zuckerberg ou o CEO do tiktok fossem tão abertos em apoiá-las.
não faz muito tempo que zuckerberg mudou as regras da META, permitindo que pessoas homossexuais fossem tidas como doentes mentais em publicações e que as políticas de diversidade na empresa chegassem ao fim, assim como a checagem de conteúdos ofensivos. como no twitter, agora os próprios usuários farão esse serviço.
quanto ao CEO do tiktok, todo o arco montado sobre a proibição do aplicativo nos EUA se deu porque os estadunidenses acham que o tiktok, aplicativo chinês, rouba dados de seus usuários para espionagem.
o aplicativo ficou inutilizável por um total de 16 horas e anunciou para seus usuários que estavam trabalhando junto ao governo trump para restaurar a usabilidade no país. o que já era uma piada virou um circo completo.
ainda no discurso de posse, trump também anunciou que os estados unidos teriam apenas dois gêneros: feminino e masculino, dando abertura para políticas transfóbicas e preconceituosas de todos os tipos e de todos os lados.
mas assim como nos EUA, o brasil também enfrenta seus próprios desafios em relação à radicalização política.
entre outras mil, és tu, brasil
somos um país jovem. são apenas 524 anos, onde 388 foram de escravidão, 84 anos de república, 15 anos da era vargas e 21 anos de ditadura (se minhas contas não estiverem erradas).
com política o buraco é sempre mais embaixo. desde que o brasil existe, ele é racista, misógino e homofóbico, elementos fundamentais para o fascismo - apesar de não serem o cerne do regime.
explicando como se fosse para uma criança de 10 anos, fascismo é o chefe mandão que não gosta quando as pessoas pensam diferente dele. ele quer que todo mundo obedeça sem questionar e acredita que só um tipo de pessoa é "boa" ou "certa". quem é diferente, pensa diferente ou age de outro jeito, ele trata mal e tenta excluir.
quando um governo é fascista, os discursos vão sempre trazer a ideia de que o país tem que ser muito forte e aqueles quem não se encaixem nessa ideia (como pessoas de outras origens, mulheres ou pessoas lgbtqianp+) devem ser tratados como inimigo.
um exemplo claro dessas políticas é o tratamento dos eua com os imigrantes em atitudes e falas nos últimos dias.
terreno fértil
se você ler o livro "as veias abertas da américa latina", escrito pelo uruguaio eduardo galeano (livro que eu ainda não terminei), irá perceber que nós, mi gente latino, temos um terreno fértil para o fascismo: somos assolados por crises econômicas, corrupções e constantemente explorados por outros países.
e não é por menos que argentina, cuba, paraguai, costa-rica, panamá e alguns outros, entraram na onda de governos de direita, a maioria com discursos salvadores e de ‘botar ordem na casa’.
a corda sempre arrebenta pro lado mais fraco. os primeiros direitos a serem tirados são os das minorias. as políticas de limpeza social agem a todo o vapor em nome de uma ideia fantasiosa de soberania de um povo.
comendo pelas beiradas
o fascismo chega sorrateiro. primeiro, ele começa com um conteúdo simples e atingindo um determinado público (sempre aqueles religiosos, defensores dos bons costumes). é através de sua fé e crenças que eles te manipulam.
ele está no vídeo que te ensina como uma mulher deve se portar: sempre bela, recatada e do lar. compreenssiva, atenciosa e muito educada, por favor e obrigada! ela não fala alto, ela não usa roupas curtas. ela não vai contrário a onda. ela sonha em ter uma família, faz o devocional todos os dias e procura um marido. ela é elegante e magnética (tenho visto bastante essas palavras).
esse marido, por sua vez, deve ser homem de verdade. a tal energia masculina é o total inverso da energia feminina: ele que é o chefe da casa, bruto. aquele homem-macho. nunca que ele apareceria na trend “pov: homens 2024”. ele não seria sentimental; não iria agir “igual uma mulherzinha”. é ele quem paga a conta. é esse homem que manda.
nos mais jovens, o fascismo se adapta: igreja de parede preta, completamente estética e instagramável. as músicas são animadas, você pode dançar, ter tatuagens, piercings e não precisa, necessariamente, seguir os ensinamentos da igreja tradicional. eles não têm missa, têm palestras e bandas.
e essa devoção até poderia ser linda, se não estivéssemos diante de toda uma realidade que julga as palavras bíblicas quando elas perpetuam: igualdade, amor e respeito.
esse meme que você compartilha, o vídeo do nikolas ferreira no jogo da NBA que você achou engraçado. é assim que eles ganham espaço.
os movimentos autoritários também estão nas postagens anti-sistema, no discurso de perda e construção de um inimigo em comum. as repetições das palavras honra e lealdade, que ficam martelando na sua cabeça; bem como o medo que sobe quando falam de perder tudo que você conhece.
se você para pra pensar que o fascismo está batendo na porta e o mundo está acabando graças ao aquecimento global e reflete: será que fumo um cigarro? a resposta é sim. o destino é iminente mesmo, e ele parece estar vindo a passos rápidos. que diferença faz uns anos de vida a menos?
não escute a autora. não fume, não consuma muito álcool (ou nada de álcool). tenha uma vida saudável.
e para não restar dúvidas:
Adorei o seu texto, é um assunto que temos que continuar falando sobre e não podemos ficar em silêncio, diversos países da Europa estão agora com o governo de extrema direita no poder e no Brasil já acharam grupos que apoia o nazismo.
Eu fico preocupada também porque as pessoas que já passaram pelo nazismo estão morrendo, então nós a geração jovem tem que continuar passando a história, eu fico frustrada pq parece que as pessoas não estudam mais e não tem vergonha de serem desinformados e burras.
Uma outra parte do texto que você falou que eu gostaria de comentar é como nos EUA os imigrantes vão ser deportados e pelo que parece pessoas que tem cidadania americana tem risco de perde-las e acho que o Trump se continuar assim pode dar um tiro no próprio pé, pois são os imigrantes que realizam o trabalho pesado nos EUA, os americanos mesmo não querem esses trabalhos pesados.
Eu vi um vídeo que achei muito interessante de como impérios caem ( https://www.youtube.com/watch?v=EgUE0mA0Fis) se quiser ver achei bem informativo!
Desculpa o texto enorme kkk
FINALMENTE alguém falou das igrejas instagramaveis meu deus eu não aguento mais o pessoal se achando super “cool” quando na verdade tão só disseminando o mesmo ódio de um jeito velado